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1 de maio de 2024
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Cooperativa de recicláveis prioriza mulheres para trabalhar: ‘dinheiro para comprar suas próprias coisas’

Cooperativa de Teresina recebe resíduos coletado pela prefeitura — Foto: Layza Mourão/ g1 PI

Quatro cooperativas receberão ao longo de 2023 resíduos recicláveis recolhidos em Teresina. Entre as entidades selecionadas está a Cooperativa de Trabalho Empreendedor e Catadores de Materiais Recicláveis do Piauí (Cootermapi), localizada no Saci, zona sul da capital, que prioriza as mulheres de bairros próximos ao galpão para trabalhar.

O presidente da cooperativa, Francisco Pereira, contou que a iniciativa busca levar autonomia e independência financeira para aquelas que querem trabalhar com a reciclagem.

“Nós temos quatro mulheres aqui da comunidade trabalhando, a gente prefere dar oportunidade para que elas tenham dinheirinho para comprar suas coisas, maquiagens, roupas, coisas de casa, se for casada. Mas também temos dois rapazes” disse.

O presidente comentou que são coletadas aproximadamente cinco toneladas de materiais recicláveis por semana pelos seis colaboradores. Em 15 dias recebendo o material coletado pela Prefeitura, já foram arrecadadas 22 toneladas de material, sendo 20 delas de vidro e duas de materiais como papelão, papéis, garrafas pets e outros.

Orgulho e consciência ambiental

Maria Lindaci é uma das funcionárias da cooperativa. Casada e com três filhos, ela trabalha há 4 meses na separação de lixo. Maria contou que o salário recebido ajuda nas despesas de casa.

“Estou aprendendo cada dia mais sobre a reciclagem, sobre a separação e também tô ensinando meus filhos. Eu tenho três filhos crianças e que já ensino a separar. Meu esposo também trabalha, mas eu trabalho para ajudar em casa, nos estudos dos meus filhos. Porque daqui eu pago o reforço para o meu filho e para minha filha também, então é uma coisa boa, ajuda muito” disse.

Apesar de não ter vergonha do trabalho, Lindaci contou que já ouviu de vizinhos comentários preconceituosos a respeito da função exercida. Segundo ela, dentro de casa ela recebe apoio dos filhos e do marido para continuar trabalhando na cooperativa.

“Eu não tenho vergonha, eu tenho é orgulho de trabalhar aqui, mesmo que venham as críticas, a gente não liga. O que a gente tá fazendo aqui é bom e a gente não deve ter vergonha de trabalhar não. Qualquer trabalho é digno. Perto lá de casa já falaram ‘ah, você trabalha no lixão’ ‘eu não deixaria minha mulher trabalhar no lixão'” lembrou.

Trabalho digno

Outra funcionária é Francisca Georgina Carvalho, que trabalha há 8 meses na cooperativa. “Não adianta a gente tá aqui, vim procurar o emprego para depois escolher o que quer fazer. Tem que fazer de tudo um pouco. É um trabalho digno e também limpa a cidade, porque esse lixo aqui era para tá todo no meio da rua e tá aqui, então é um bem para gente e para a sociedade” disse.

Aos 34 anos e mãe de quatro filhos, Lana Sousa começou a trabalhar na cooperativa há 10 dias, e apesar do pouco tempo, ela contou que o trabalho a trouxe uma nova visão sobre a separação e a coleta de lixo.

“Aqui a gente começa a descobrir o reciclável, a como separar o lixo que a gente pode tá fazendo em casa e não faz. Me tornei mais consciente socialmente, pois a gente não tem consciência em casa. Meus filhos de pequeno já estão aprendendo a separar o lixo, e vão crescer sabendo e tendo consciência social”, completou Lana.

4 anos de trabalho

A cooperativa foi fundada em 2011, mas os trabalhos iniciaram apenas em 2017. A parceria entre município e cooperativas terá duração de 12 meses, e o material deve ser entregue duas vezes por semana.

O galpão onde acontece os trabalhos tem cinco mil metros quadrados e, atualmente, conta com seis colaboradores e uma lista de espera por vaga com mais de 30 nomes. Com uma jornada de trabalho de segunda a sexta, cada um recebe um salário mínimo por mês.

O que as pessoas não sabem é que a gente recebe o lixo que é produzido em casa. Então se você tiver papelão, televisão de tubo, geladeira, garrafas pets, livros, vidros, a gente recebe, só não temos como estar indo de casa em casa recolher, mas se puder vim deixar aqui, o portão tá aberto” disse Francisco.

O presidente falou que a taxa de reciclagem de Teresina é muito baixa em comparação a média nacional, considerada por ele, bem inferior a países como a Alemanha.

“A Alemanha recicla 60% do que produz, o Brasil só recicla 4%, e Teresina é menos ainda, está se encaminhando para 1,6%. Segundo as estatísticas, cada morador de Teresina produz aproximadamente 700 gramas de lixo todo dia. E esse lixo vai todo para onde? Para os aterros sanitários” disse.

Material 100% aproveitado

O presidente falou que empresas de estados como São Paulo, Pernambuco, Ceará compram o que é produzido na cooperativa.

“Nessa manhã veio o representante de outra empresa de São Paulo interessada no vidro que a gente produz aqui. Esse vidro é triturado ali na máquina e depois vendido para essas empresas. Nós somos a única cooperativa que recebe e trabalha com vidro no Piauí” contou.

*Estagiária sob supervisão. Fonte: G1-PI

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