Quem foi ao médico esses dias deve ter observado a superlotação de pessoas nas recepções de clínicas e hospitais com problemas respiratórios. Uma das principais complicações diagnosticadas nos consultórios é a gripe, que tem deixado muitas pessoas acamadas. Alguns internautas nos procuraram e pediram que publicássemos algo a respeito. Não encontramos um médico disponível para entrevista por ser véspera de feriado prolongado, mas numa breve pesquisa na internet, encontramos um texto informativo feito pelo Dr. Carlos Jardim, que é pneumologista e faz parte do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo. Inclusive ele faz um alerta! Gripe é diferente de resfriado. Confira:
A gripe é uma doença aguda que acomete as vias respiratórias. Ela ocorre quando organismo é infectado pelo vírus influenza. Resfriado e gripe são enfermidades distintas: os resfriados são causados por rinovírus ou coronavírus e têm apresentação diferente. A gripe pode ocorrer em surtos ao longo do ano, mas é mais frequente no inverno ou em períodos mais frios. No Brasil, a temporada de gripe ocorre geralmente entre abril e outubro, principalmente nas regiões em que as condições climáticas são mais definidas. Alguns tipos do vírus influenza podem provocar a doença, como o H1N1 (epidemia de gripe suína em 2009) ou o da gripe aviária (H5N1), por exemplo. Em condições habituais, porém, a maioria das infecções é causada pelos vírus da influenza A e B. Como a incidência maior de casos se dá no período mais frio do ano, o quadro recebe o nome de gripe sazonal.
Como se pega?
A transmissão do vírus da gripe acontece por via respiratória, geralmente pela inalação partículas de secreção infectada em suspensão no ar. Por esse motivo, é importante tomarmos certos cuidados ao tossir ou espirrar, quando estamos doentes. O contágio por contato físico direto ainda não foi totalmente esclarecido, mas é possível que o contato com uma superfície que acaba de receber o vírus eventualmente facilite sua transmissão. Os vírus são organismos que precisam entrar nas células para sobreviver e o influenza tem predileção pelas células do sistema respiratório. Quando ele vence as defesas celulares e começa a replicar-se, a pessoa demora entre 3 e 4 dias para manifestar os sintomas da gripe provocados pela multiplicação dos vírus e pela resposta inflamatória que induzem.
Quadro clínico
A gripe normalmente tem início abrupto e provoca febre alta (mais de 38 °C), dores de cabeça e no corpo, mal estar e fraqueza. Outros sintomas possíveis são tosse, inicialmente seca, dor de garganta e coriza. A gripe não complicada costuma melhorar em até 5 dias contados a partir do início dos sintomas, mas, em alguns casos, o quadro pode estender-se por mais de uma semana. A recuperação é rápida. No entanto, algumas pessoas demoram semanas para se recuperar da “fraqueza” que sentem. Em pessoas vulneráveis, a gripe pode ser mais perigosa e é chamada de gripe complicada. Isso acontece quando ocorre: a) pneumonia causada diretamente pelo vírus influenza (pneumonia viral); b) pneumonia bacteriana (quando bactérias se aproveitam da fragilidade do organismo e infectam os pulmões); c) acometimento dos músculos (miosite) ou do sistema nervoso (encefalite ou polirradiculoneurite, por exemplo). Estão sob maior risco de apresentarem essas complicações as crianças com menos de 2 anos, os adultos com mais de 65 anos, pessoas que vivem em asilos ou instituições de saúde, doentes crônicos (diabéticos e pneumopatas, por exemplo) e os obesos.
Diagnóstico
Nos períodos de epidemia de gripe, em geral o diagnóstico é clínico, ou seja, realizado sem auxílio de exames laboratoriais. Normalmente, pessoas com febre e sintomas respiratórios que se manifestaram há menos de 48 horas recebem o diagnóstico de gripe. Entretanto, em algumas situações, pode ser necessário confirmar o diagnóstico com exames, porque isso pode exigir uma mudança na conduta do tratamento. Encontram-se nessa situação os pacientes que têm de ser hospitalizados por causa da gripe, aqueles em que a doença evolui rapidamente ou de forma mais grave, as pessoas com mais de 65 anos e as gestantes.
Tratamento
Como a gripe é uma doença autolimitada, na maioria dos casos basta o tratamento de suporte, com analgésicos, antitérmicos, repouso e hidratação. Em alguns casos, podem ser introduzidos medicamentos antivirais que, como sugere o nome, atuam especificamente sobre os vírus. Esses remédios só funcionam se forem administrados nas primeiras 48 horas a contar do início dos sintomas e cabe ao médico decidir quem pode beneficiar-se com sua indicação. Antibióticos não funcionam para tratar a gripe e são prescritos somente nos casos de eventuais infecções bacterianas, que podem advir como complicação do quadro.
Prevenção
A prevenção da gripe consiste em medidas relativamente simples: vacinação e cuidados básicos de higiene. O objetivo da vacinação é fazer com que a pessoa não contraia a infecção ou, se isso não for possível, que tenha um quadro mais leve da doença, com menor risco de complicações. Os efeitos colaterais da vacina são geralmente locais (dor e inchaço no lugar da aplicação, por algumas horas). Eventualmente, pode provocar um quadro semelhante ao de um resfriado comum. A vacinação deve ser repetida anualmente, porque a vacina muda de acordo com as alterações sofridas pelos vírus. Geralmente, a pessoa demora duas semanas para desenvolver os anticorpos adequados. Adultos com mais de 50 anos, imunossuprimidos (transplantados, pacientes com HIV), doentes crônicos e profissionais de saúde estão entre aqueles que devem tomar a vacina todo anos. As medidas de higiene úteis para a prevenção da gripe são simples: cobrir a boca quando tossir ou espirrar (para evitar a disseminação maior de partículas que carregam os vírus) e manter as mãos limpas (lavá-las com água e sabão) para evitar eventual transmissão por contato.
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