O menino de Ambrósio, filho do senhor Elísio, quando improvisava seus instrumentos de lata, e cantava debaixo das árvores, não imaginava a proporção que isso tomaria e a que distancia iria chegar. Em seu pensamento de criança pré-adolescente a única presunção que tinha era de cantar para os amigos e familiares da região. Talvez quando foi surpreendido pelos seus ídolos, Zé Silva e Barrazul, e colocado ao lado dos mesmos para improvisar uns versos, ele pensou que tinha atingido o seu ápice, pois não era fácil chegar próximo destes cantadores. Entretanto a grandeza do seu talento ultrapassaria os limites do sonho de garoto.
Quando Enevaldo Hipólito começou a cantar batendo nas latas com cordas de linha de pescar, tinha como plateia, as árvores, os passarinhos e seus irmãos. Os pássaros embevecidos com seu canto, lhe presentearam asas. Parte dessa plateia absorvia a essência de sua poesia, em silêncio, para devolver em dobro em inspiração, mas a outra parte não consegue se conter, alardeou que havia um aprendiz de trovador no quintal da casa de seu Elísio. O patriarca que tinha como uma das maiores paixões, o repente e a cantoria, logo investiu nesta promessa artística. E o primeiro investimento não podia ser diferente, um pequeno violão para o trovador melhor desenvolver seu talento.
A partir daí não se pode conter mais a cachoeira de poesia que saltava de dentro do coração poeta e, percebendo toda essa grandeza, o maior ídolo do jovem, Barrazul o levou para junto com ele se apresentar na Rádio Difusora de Picos.
Depois de algum tempo o destino o colocou diante de outro poeta promissor, Vitorino Bezerra e os dois foram trabalhar em Padre Marcos na rádio da cidade. Lá formou família, cresceu em todos os sentidos, principalmente o lado artístico e, consequentemente, necessitou de mais espaço. O Piauí estava pequeno para comportar o talento do garoto de Ambrósio, e chegou o momento de usar aquele presente recebido dos passarinhos, assim ele voou para a terra dos repentistas, o Pernambuco.
O jovem Enevaldo agora seria reconhecido como repentista e entraria para cânone do Repente Nordestino, porém com um novo nome, mais pomposo, mais forte, que representaria melhor a sua força poética: Hipólito Moura.
Fragmentos de poemas de Hipólito Moura
Amor:
“É capaz de arrancar a dor
do peito de quem padece
quando está nascendo é ínfimo
se for bem cuidado cresce
basta o coração dar ordem
o corpo todo obedece”
Pai:
“Pai procura ensinar
e como amigo se coloca
quer ver o filho distante
de vício briga e fofoca
ruim é dar carinho
e ter ingratidão em troca”
filho:
“Ao crescer não esqueça os afazeres
um adulto de bem logo se torne
não aceite suborno e nem suborne
seja bom cumpridor de seus deveres
de um encontro amoroso entre dois seres
você veio para ser meu sucessor
tão sublime e tão puro quanto a flor
que pureza maior não pode haver
pequenino pedaço do meu ser
Deus te guie nas estradas do amor”