A 10ª edição do concurso Beleza Negra e 12ª semana da Consciência Negra, promovido pelo Grupo Cultural Adimó, foi realizado na noite do último sábado (26), na quadra esportiva da Unidade Escolar Coelho Rodrigues, em Picos-PI. Na ocasião, foram promovidas atividades com desfiles e entregas de certificados a personalidades negras da cidade.
Confira as fotos da 10ª edição do Beleza Negra de Picos
Apesar de ser um concurso, o objetivo do evento não é ser competitivo na sua essência. Segundo Mano Chagas, diretor do grupo e organizador das edições, os projetos que são pensados pelo movimento negro no município serve, principalmente, para mudar a representatividade e melhorar a autoestima da população preta. Ainda que o racismo tente achar espaço, o povo resiste em suas manifestações.
“Essa é uma edição comemorativa, não competitiva. Existiam negras, anos atrás, que não conseguiam andar com o cabelo trançado e hoje elas têm o maior orgulho. É uma missão cumprida. O racismo continua, mas resistimos”, disse o diretor.
Anajara é filha de Mano Chagas e entende bem o que é resistir. Hoje professora do grupo cultural, afirma que a principal meta do evento foi atingida: trocar vivências e estimular o debate para que o racismo seja reconhecido e deixe de existir. Emocionada, conta que o evento, paralisado por conta da pandemia, tinha seu retorno incerto, mas foi totalmente abraçado.
“A nossa ideia era trocar vivências para que pudéssemos levar esse tema o mais próximo possível da realidade. Quando mais debate houver sobre isso, será mais fácil combater (o racismo). Fico emocionada. Foi um evento que não fizemos ano passado e nem em 2020. Não sabíamos que teria as pessoas que estão aqui. É a prova da resistência do movimento negro em Picos”, contou a professora.
Comemorando mais uma edição do concurso Beleza Negra, uma das personalidades negras homenageadas foi Natália Silva, contemplada na edição 2016. Em Picos desde 2010, encontrou na capoeira um caminho a seguir, passando por cima de todos os julgamentos e rótulos que a sociedade insistia em impor sobre ela.
“Tive grandes orientadores que me ajudaram a me encontrar e assumir o meu papel dentro da sociedade como mulher negra. Ao acolher pessoas que sofriam racismo, eu estava na linha de frente ajudando e sendo ajudada”, destacou Natália.
Rafael Silva é capoeirista e foi outro homenageado pelo evento. De acordo com Rafael, o grupo de capoeira Palmares ajuda na contribuição da cultura com toda a vestimenta, musicalidade e história negra. O capoeirista ainda frisa que a preservação das memórias e a resistência de um povo, que há muito foi marginalizado, servem para as novas gerações serem representadas de maneira real.
“A capoeira sempre foi resistência e temos que preservar nossa cultura e identidade, reafirmando nossa ancestralidade e raízes. Mostra que o negro, ao contrário do que é falado, tem seu espaço e personalidade na sociedade. Que possam inspirar essa nova geração pelo mesmo caminho através da cultura e educação”, pontuou o capoeirista.
A educadora social Assunção Aguiar, uma das homenageadas, contribui reafirmando que não é comparar belezas, mas mostrar que a beleza existe em todos os traços da população. Os resultados positivos reforçam que o trabalho deve continuar e ser ainda mais fortalecido, seja com militância ou com a promoção de promoção de políticas públicas.
“É o momento que trazemos ao palco todo o trabalho feito ao longo de mais de dez anos. Hoje não estamos julgando quem é mais ou menos belo, mas mostrando que esse trabalho tem dado resultado, trazido mais autoestima para meninas e meninos negros. Ficamos felizes. Quando as pessoas se assumem como negras, mostram que precisamos fazer ainda mais”, completou Sonia.