O ex-policial Francisco Ribeiro dos Santos Filho declarou durante julgamento no Tribunal do Júri, nesta quarta-feira (28), que atirou no cabo Samuel de Sousa Borges em legítima defesa. Ele é acusado de homicídio qualificado. A vítima foi morta na frente do filho em fevereiro de 2019.
“A acusação da forma que o Ministério Público colocou é falsa. Agi em legítima defesa. Eu tentei de toda forma evitar a situação. Não sai de casa com esse intuito. Só usei de arma de fogo para defender a minha vida”, declarou.
Francisco contou que estava indo pagar um boleto, quando foi abordado pelo cabo Samuel e ele começou a persegui-lo. “Não tinha nada que justificasse aquela abordagem. Mandei ele seguir a viagem. Como ele fez a menção de puxar a arma, eu coloquei a minha na mão. Foi quando ele começou a filmar, eu me senti ameaçado”, contou.
O réu revelou que tentou subir novamente na moto, quando o cabo tentou agarrá-lo. Os dois decidiram seguir viagem, mas houve um novo confronto mais a frente, desta vez, com a arma em punho, segundo Francisco.
“Ele começou a gravar novamente, pegou a chave da minha moto e jogou em um terreno baldio. Eu comecei a atirar e não sei onde atingiu ele. Depois, eu voluntariamente entreguei a arma para o segurança da escola”, disse.
Francisco contou ter usado uma pistola para atirar no cabo, mas que estava com um revólver calibre 38 na cintura. O acusado denunciou que foi ‘bastante’ agredido pelos seguranças, que o algemaram e apreenderam suas armas até a chegada do delegado Willame Moraes.
A defesa do réu alega que o crime foi cometido em legítima defesa. Contudo, o Ministério Público contesta a tese e afirma que um vídeo gravado pela própria vítima afasta a possibilidade de que o homicídio tenha sido cometido em legítima defesa.
O julgamento acontece no Fórum Cível e Criminal, em Teresina. Familiares da vítima aguardam o fim da audiência do lado de fora.
Entenda o caso
De acordo com a investigação do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), a vítima foi morta após ameaçar denunciar o então PM do Maranhão à Corregedoria da Corporação. Francisco Filho foi preso em flagrante.
No dia do crime, o acusado foi espancado por pessoas que presenciaram o assassinato. A vítima, o policial militar Samuel Borges, foi assassinado com três tiros, um deles na cabeça, na presença do filho adolescente.
Após ser preso, Francisco declarou à polícia que o motivo do crime teria sido uma discussão sobre o trânsito, mas a versão foi descartada durante a investigação.
Segundo o delegado Francisco Costa, o Barêtta, a discussão entre os dois policiais começou no momento em que a vítima abordou Francisco, filmando com o celular, quando percebeu que ele tinha dois volumes nas calças, que indicavam ser duas armas de fogo, e estava com uma motocicleta sem placa.
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Policial filmou o próprio assassinato. — Foto: Divulgação/Polícia Civil
O cabo Samuel continuou a filmar e então foi baleado com três tiros, um deles na cabeça, e morreu na frente do filho. A vítima tinha 30 anos, fazia parte do Batalhão de Rondas Ostensivas de Natureza Especial (BPRone) e era lotado na Cavalaria da Polícia Militar do Piauí.
O policial foi velado com honras militares na sede do Batalhão de Rondas Ostensivas de Natureza Especial (BPRone).
O cortejo foi acompanhado por homens da Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar e BPRone, além dos amigos e familiares.
O policial cursava Nutrição em uma faculdade particular de Teresina, e foi homenageado por colegas de turma durante a solenidade de colação de grau.
Fonte: G1-PI