18 de março de 2025
Cidades em Foco
GeralInternacionalNordeste em FocoPolítica

Entidades do Ceará pedem para serem ouvidos no processo do litígio e pode atrasar julgamento

Divisa do Piauí com Ceará / Foto: reprodução

Pelo menos 15 entidades, entre associações de povos indígenas, de prefeitos e produtores rurais, ingressaram com pedidos para terem direito de participarem, e terem voz, no processo do litígio entre o Piauí e Ceará.

A estratégia é de defenderem seus territórios em uma demanda que terá impacto direto para eles. A Procuradoria vê os pedidos como estratégia, tumultuando o processo e atrasando o julgamento da ação no STF (Supremo Tribunal Federal).

“Cada pedido de ingresso no processo, acaba gerando um tumulto processual, quanto mais atores envolvidos no processo mais ele demora e fica complexo”, disse o procurador Lívio Bonfim, da Procuradoria do Patrimônio Imobiliário do Piauí.

As entidades cearenses pedem para ingressar como “amigo da corte” (​​amicus curiae), já que serão atingidas com a decisão do STF. Do Piauí, nenhuma entidade pediu ingresso na ação.

A disputa territorial do Piauí e o Ceará tem mais de 260 anos e se transformou em batalha judicial em 2011 e caminha para um desfecho no STF. A área em litígio envolve 13 municípios do Ceará, 9 do Piauí e um território de 3.000 km², o equivalente a duas cidades de São Paulo. Cerca de 25 mil pessoas moram na região, que é considerada uma joia pelo potencial econômico para agronegócio, mineração e energia eólica.

A relatora do processo, a ministra Carmen Lúcia solicitou um laudo do Exército numa tentativa de resolver o impasse que dura desde a era imperial. A perícia das Forças Armadas foi apresentada em junho do ano passado com cinco propostas, sendo três favoráveis ao Piauí e duas ao Ceará.

Piauí e Ceará ainda não foram notificados 

O STF ainda não notificou os dois estados para se manifestarem sobre o laudo do Exército, se concordam ou discordam. Com a intimação, as procuradorias do Piauí e Ceará tem 15 dias para pedir esclarecimentos. O estado do Piauí vai contestar pontos do laudo.

“Assim como o Piauí, é provável que o Ceará peça também seus esclarecimentos complementares a respeito daqueles pontos que não se harmonizam com aquilo que o Ceará e o Piauí têm defendido”, disse o procurador Lívio Bonfim.

O procurador ressaltou ainda que se a relatora a qualquer  momento, percebendo uma atmosfera de harmonia entre os estados, pode pedir uma audiência de conciliação.

“O Código de Processo Civil conduz a ação para uma solução consensual, que acaba trazendo uma maior pacificação social, deixa as partes satisfeitas e se buscando com mais clareza a realização do valor justiça”, disse o procurador.

 Disputa desde o Império

Um dos pontos centrais da disputa é a região da Serra da Ibiapaba. A tese piauiense é que a divisa entre os dois estados fica no ponto mais alto da cadeia de montanhas. O Ceará, por sua vez, alega que o marcador geográfico é o sopé do lado oeste, onde começariam as terras do estado vizinho.

Na ação que moveu junto ao STF, o Piauí apresentou 17 documentos, entre cartas, alvarás, decretos e mapas históricos de 1754 a 1913. Um dos mapas mais relevantes é o produzido em 1760 pelo engenheiro Henrique Antonio Galúcio, que marca a divisa pelo alto da serra da Ibiapaba.

Outro destaque é um decreto de Dom Pedro 2º, de 1880, que determina mudanças nos territórios entre Piauí e Ceará. O povoado de Amarração, no litoral, foi indicado como parte do Piauí, enquanto os cearenses absorveram a comarca de Príncipe Imperial, onde fica o atual município de Crateús.

O documento afirma que as vertentes ocidentais da serra pertenceriam ao Piauí, e as orientais seriam de posse cearense. Os piauienses defendem que o documento indica a delimitação da divisa no topo da serra, mas diz que esta divisão se refere apenas ao trecho da divisa na região de Crateús, objeto da carta régia.

A defesa do Ceará também apresenta seus trunfos entre documentos e mapas históricos que, afirmam, visam “desconstruir narrativas produzidas pelo estado do Piauí”. Entre eles estão anais históricos da Câmara e do Senado de 1880 e mapa corrigido de Galucio de 1809. Além disso, também apresenta aspectos relacionados à cultura da população que vive na região em disputa.

Investida da Alepi

Eleito o novo presidente da comissão de estudos territoriais da Assembleia Legislativa do Piauí, o deputado estadual Gil Carlos (PT) revelou em entrevista que buscará uma audiência no Supremo Tribunal Federal, dentro dos próximos meses, para consultar o andamento do processo sobre o litígio.

Cronologia do litígio

Capitania no Piauí – 1718

Criação da Capitania no Piauí, a partir de desmembramento do Maranhão.

Nação indígena – 1721
Carta régia emitida pelo Rei de Portugal, D. João 5º, estabeleceu que a Serra da Ibiapaba seria destinada à nação indígena Tabajara, situada no Ceará.

Mapa – 1760
Engenheiro Henrique Antônio Galúcio produz o primeiro mapa da capitania do Piauí, que inclui as terras da Serra da Ibiapaba.

Capitania do Ceará – 1799
Carta régia determina a criação da Capitania do Ceará, a partir de desmembramento de Pernambuco.

Mudanças nos territórios -1880
Decreto assinado pelo Imperador Dom Pedro 2º determina mudanças nos territórios entre Piauí e Ceará. O povoado de Amarração, no litoral, foi indicado como parte do Piauí, enquanto os cearenses absorveram a comarca de Príncipe Imperial, onde fica o atual municípios de Crateús.

Convenção arbitral – 1920
Presidente Epitácio Pessoa determina a instalação de uma Convenção Arbitral entre o Piauí e o Ceará para mediar o conflito, mas não há avanços nas negociações entre as partes.

Área de litígio – 1940
Mapa produzido a partir do Censo daquele ano delimita a área de litígio, que aparece como não pertencendo a nenhum dos dois estados.

Censo do IBGE – 2010
Mapa desenvolvido pelo IBGE deixa de apresentar a área de litígio e coloca territórios em disputa como parte do Ceará.

Piauí no STF – 2011
Após tentativas fracassadas de acordos entre os governos estaduais, o estado do Piauí ingressa com no STF com ação cível originária na qual pleiteia a posse dos territórios em litígio.

Exército acionado – 2016
Ministro Dias Toffoli determina que Exército realize perícia técnica dos territórios em litígio.

Entrega de perícia – 2024
Após atrasos nos estudos em decorrência da pandemia, Exército entregou relatório com cinco propostas.

Fonte: CidadeVerde

Notícias relacionadas

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Se você está de acordo, continue navegando, aqui você está seguro, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia mais