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4 de maio de 2024
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Ritmo de contágio desacelera em capitais e avança no interior, diz estudo

Agentes de saúde testam morador de comunidade ribeirinha Roli Madeira, no Pará, para coronavírus — Foto: Tarso Sarraf/AFP

O “ritmo de contágio” do novo coronavírus desacelerou em capitais e aumentou no interior do país entre o fim de maio e o começo de julho, aponta levantamento da plataforma Farol Covid, que analisou a situação das 124 cidades mais afetadas pela pandemia. Juntas, elas somavam 29.122 mortes na segunda-feira (08), o que representa 80% do acumulado no Brasil.

O levantamento obtido com exclusividade pelo G1 detalha a situação nas 10 com maior e nas 10 com menor ritmo de contagio. Ele aponta que sete das dez cidades com maior ritmo de contágio estão no Pará. Também simbolizado por Rt, o “ritmo de contágio” é um número que traduz o potencial de propagação de um vírus: quando ele é superior a 1, cada infectado transmite a doença para mais de uma pessoa e a doença avança.

“Quando esse número é menor que 1, isso quer dizer que há doentes que não transmitem a doença a mais ninguém e nossa expectativa é que a curva da doença passe a se inclinar para baixo”, disse Ana Paula Pellegrino, coordenadora de Tecnologia e Dados na Impulso.

Os dados da Farol Covid apontam que Porto Alegre (RS) teve Rt de 0.99, o mais baixo no período entre as analisadas, enquanto Barcarena (PA) ficou no oposto, com Rt de 2.36, o mais alto. Ou seja, a estimativa é que cada infectado na cidade paraense, em média, vá transmitir a doença para mais de duas pessoas.

A análise considera dados das secretarias estaduais de saúde entre 23 de maio e a segunda-feira (8) e utiliza um modelo matemático específico para análise de epidemias que permite a produção do Rt estimado.

Cidades com maior aceleração

Cidade Estado Ritmo de transmissão
Magé RJ 1.78
Marituba PA 1.81
Campina Grande PB 1.83
São Vicente SP 1.84
Benevides PA 1.89
Abaetetuba PA 1.97
Tucuruí PA 2.05
Curuçá PA 2.07
Paragominas PA 2.16
Barcarena PA 2.36

Cidades com menor aceleração

Cidade Estado Ritmo de contágio
Porto Alegre RS 0.99
Fortaleza CE 1.03
Duque de Caxias RJ 1.06
Manaus AM 1.07
São Luís MA 1.12
São Lourenço da Mata PE 1.15
Volta Redonda RJ 1.16
São Paulo SP 1.17
Caieiras SP 1.18
Praia Grande SP 1.19

Abaixo, nesta reportagem, veja outros detalhes da situação das 10 cidades que tiveram o maior aumento e das 10 com a maior redução do Rt no período.

  • Das 10 cidades com menor ritmo de contágio, 5 são capitais
  • Apenas em Porto Alegre o ritmo de contágio foi inferior à 1; estudo mostra ainda que cidade ainda não atingiu o pico de mortes
  • Manaus, que aparece com ritmo de contágio em desaceleração, já atingiu o pico de óbitos
  • Entre as cidades com maior ritmo de contágio, a data dos primeiros casos da doença foi nos últimos dias de março e, sobretudo, ao longo do mês de abril
  • Entre as cidades com maior ritmo de contágio, a média da taxa de isolamento caiu no período, saindo de 44% no fim de maio para os 41% verificados nesta semana
  • A taxa de isolamento também caiu entre as cidades com menor ritmo de contágio, na média, passando de 44% para 42%

Rota do Rio Tocantins

O levantamento dos especialistas da plataforma aponta que a maioria dos municípios que registraram um ritmo maior de contágio está no estado do Pará. São sete em dez cidades, das quais, seis acompanham a trajetória do Rio Tocantins.

A maior parte dos municípios que teve ritmo acelerado de infecção no Pará estão ao redor da capital Belém, que decretou lockdown entre os dias 7 e 24 de maio. Barcarena, Tucuruí, Curuçá, Marituba, Paragominas, Benevides e Abaetetuba apresentaram ritmos de contágio que variaram entre 1,81 e 2,36 – isso quer dizer que em cada um dos municípios destacados, um portador da Covid-19 chegou a infectar entre 2 e 3 novos pacientes.

Cidades com maior ritmo de infecção da Covid-19 — Foto: G1

Cidades com maior ritmo de infecção da Covid-19 — Foto: G1

Os municípios registraram seus primeiros casos de Covid-19 ainda no final de março, mas foi em abril que mais tiveram aumento no número de confirmações. Segundo o levantamento, a média de isolamento nestas cidades caiu de 44% para 41% em uma semana.

Fátima Marinho, que é médica epidemiologista e uma das consultora técnicas que apoiam a plataforma, disse ao G1 que a interiorização dos casos é “a crônica de uma morte anunciada”. Além disso, a especialista apontou que são poucos os municípios do país que ainda não têm nenhum caso de Covid-19.

“O que a gente pode fazer é ajudar na mitigação”, disse Marinho. “A primeira medida quando você tem uma alta taxa de contágio de disseminação do vírus, você trabalha com o distanciamento social, e aí se começa a fazer uma identificação dos casos e testar isolar casos e os contatos.”

Ela explicou que é apenas com esse acompanhamento que é possível reduzir o ritmo de contágio para perto de 1, que é o ideal.

“Para só assim poder discutir e reabrir as atividades de comércio, e até mesmo escolas, que são as últimas a voltarem”, disse a epidemiologista.

Capitais desaceleram

O relatório apontou para uma desaceleração no ritmo da transmissão da doença nas capitais do país: Porto Alegre, Fortaleza, São Paulo, Manaus e São Luís ficaram entre as dez cidades com o menor ritmo de contágio do país.

Os pesquisadores apontaram para uma “tendência geral de estabilização” entre as cidades com menor ritmo de crescimento da doença, mas alertam para a dificuldade que elas ainda encontram em barrar o surgimento de novos casos.

Entre as capitais, Porto Alegre foi a única cidade que teve ritmo de contágio com valor mais provável abaixo de 1. As outras cidades variam com taxas entre 1,03 e 1,17, ainda evidenciando uma transmissão ativa da Covid-19.

Fiéis da igreja de Nossa Senhora das Dores, em Porto Alegre, assistem à celebração com distanciamento social por conta da pandemia de Covid-19 em 29 de maio — Foto: Silvio Ávila/AFP

Fiéis da igreja de Nossa Senhora das Dores, em Porto Alegre, assistem à celebração com distanciamento social por conta da pandemia de Covid-19 em 29 de maio — Foto: Silvio Ávila/AFP

O levantamento destacou também que a capital gaúcha e Fortaleza ainda não atingiram o pico de mortes, enquanto que São Paulo parece ver um novo aumento no número de mortes reportadas diariamente.

Fátima Marinho pondera, no entanto, que é importante usar mais de um indicador para entender a epidemia. Isso porque, segundo ela, a taxa de infecção, por estar vinculada às detecções de novos casos da doença pode ser subestimada.

“Outros indicadores, como a mortalidade, mostram o tempo que o vírus está circulando e me dá um sinal também da gravidade da epidemia”, disse Marinho.

Pico de mortes

O estudo também apresentou que algumas das cidades com menor ritmo de infecção ainda não atingiram o pico de mortes por complicações da Covid-19, é o caso das capitais Porto Alegre e Fortaleza.

Em um mapa de calor (veja abaixo), os pesquisadores apresentaram taxa diária de mortes em cada um dos dez município com menor aceleração. Em verde estão os dias em que a cidade teve poucas mortes confirmadas, na comparação com seus piores dias.

Mapa de calor: Média móvel de novas mortes em 5 dias — Foto: Farol Covid - Impulso/Instituto Arapyaú/InLoco

Mapa de calor: Média móvel de novas mortes em 5 dias — Foto: Farol Covid – Impulso/Instituto Arapyaú/InLoco

A escala muda gradualmente até a cor vermelha, que indica os dias com o maior número de novas mortes. Os dados consideram apenas as estatísticas oficiais, e não corrigem o atraso entre a data em que a morte ocorreu e a data em que ela foi confirmada.

São Paulo e Duque de Caxias parecem estar vendo novo aumento no número de mortes reportadas por dia. Entretanto, os pesquisadores ressaltam que Manaus, Volta Redonda, Praia Grande, Caieiras, São Luís e São Lourenço da Mata já passaram do pico.

Metodologia

O levantamento feito pela plataforma Farol Covid, desenvolvida pela Impulso em parceria com Instituto Arapyaú e InLoco, calculou o ritmo de contágio (também chamado de número de reprodução efetiva da doença), a partir dos dados oficiais divulgados pelas secretarias estaduais de saúde.

Os pesquisadores usaram um modelo matemático para fazer essa projeção a partir de cálculos já conhecidos, usados para distritos dos Estados Unidos. Com o modelo, é possível atualizar a expectativa de novas pessoas infectadas por cada pessoa doente (Rt) de acordo com o número de novos casos reportados no dia e outras variáveis incluídas na fórmula.

Cálculo do Rt

O ritmo de contágio traduz em uma estimativa a quantidade de pessoas que cada pessoa doente pode infectar em um determinado intervalo de tempo.

  • O Rt é o número de novas infecções esperadas a cada em 8 dias para a Covid-19; ou seja, quando uma cidade tem Rt 2, a estimativa é que um infectado transmita doença para outras duas pessoas dentro desse prazo de 8 dias.
  • Esse valor muda conforme variáveis consideradas no modelo: uma delas é o tempo de circulação da doença: no início há mais chances de se infectar outras pessoas
  • O modelo matemático usado nos cálculos ainda leva em consideração variáveis como: a duração da infecciosidade (quanto maior o período em que alguém permanece doente, maior a chance de transmitir) a oportunidade (com quantas pessoas o infectado vai se relacionar no período) e probabilidade de transmissão, e a suscetibilidade do indivíduo

“Esse número muda dia a dia”, explicou Ana Paula Pellegrino. “Isso porque você tem no início mais pessoas que estão suscetíveis a doença e no final, menos pessoas suscetíveis.”

A coordenadora coordenadora de Tecnologia e Dados na Impulso disse também que o Rt mostra se as medidas tomadas por gestores públicos são efetivas para “frear cadeias de transmissão”.

Segundo ela, sem acabar com essas cadeias, é mais difícil diminuir a curva de contágios e conter o surgimento de novos casos.

Fonte: G1

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