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27 de abril de 2024
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Casos de violência política sobem significativamente no país em 2022, afirma levantamento

Foto: Unsplash/Maxim Hopman

O número de casos de violência contra lideranças políticas, como o assassinato do tesoureiro do PT Marcelo Arruda, já é maior na primeira metade deste ano do que no mesmo período do último ciclo eleitoral, o pleito municipal de 2020.

A constatação é do Observatório da Violência Política e Eleitoral, formado por pesquisadores do Giel (Grupo de Investigação Eleitoral) da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).

Considerando-se os primeiros seis meses do ano, em 2020, ano de eleição municipal, foram registrados 174 casos e, em 2022, 224, um aumento de 23%.

O grupo considera como lideranças políticas ocupantes e ex-ocupantes de cargos eletivos, candidatos, ex-candidatos, pré-candidatos e determinados funcionários da administração pública (ministros, secretários de governo e assessores).

É o caso de Arruda, que, além de guarda municipal e tesoureiro do PT, havia concorrido a vereador e a vice-prefeito pelo partido nas últimas eleições municipais.

O boletim trimestral sobre violência política é feito pelo Giel com base no acompanhamento dos veículos de comunicação. As informações obtidas em reportagens são depois validadas pela equipe para descartar mortes naturais, acidentais ou sem razão conhecida.

O grupo considera violência política contra lideranças os atos de ameaça, agressão, homicídio, atentado, homicídio de familiar, sequestro e sequestro de familiar.

O recrudescimento da violência política já havia sido observado no primeiro trimestre deste ano, quando o Observatório registrou a ocorrência de 113 casos, 28% a mais do que no mesmo período de 2020.

Já no segundo trimestre, foram 101 episódios, 17% a mais do que há dois anos. O caso do petista entrará no próximo boletim, já que o acompanhamento é trimestral.

No período mais recente analisado, ou seja, de abril a junho, o tipo de violência mais frequente foi ameaça, com 37 casos (36,6%), seguida de agressão, com 27 casos (26,7%), e homicídios, com 19 casos (18,8%).

Houve ainda nove atentados (8,9% do total de ocorrências), cinco homicídios de familiares (5%), dois sequestros (2%) e dois sequestros de familiares (2%).

Segundo o cientista político Felipe Borba, coordenador do Giel, a comparação entre anos eleitorais é a mais adequada, devido à tendência de os casos acompanharem o calendário dos pleitos. E isso o preocupa atualmente.

“Caso se repita o que foi observado na eleição municipal, a grande escalada de violência começa agora”, afirma.

Em 2020, o número de episódios de violência política aumentou 44% do segundo trimestre para o terceiro, e 93,5% entre o terceiro e o quarto trimestre.

A região Nordeste teve o maior número de assassinatos (10 casos) e, pela primeira vez, o estado do Paraná liderou o ranking, com quatros casos, algo que, segundo o boletim, “chama atenção por ser algo incomum até então”.

Considerando-se o país todo, Borba afirma que o atual aumento da violência política em relação a 2020 não era esperado porque a eleição federal e estadual tem muito menos candidatos do que a municipal, quando as 5.568 cidades do país elegem prefeitos, vice e vereadores.

Em sua avaliação, a alta neste ano decorre de dois fatores. Por um lado, a violência da política estadual e federal se soma à municipal, que é predominante no país. E, por outro, afirma, o bolsonarismo usa a linguagem da violência como estratégia eleitoral, o que acaba incitando apoiadores.

“As eleições brasileiras sempre foram polarizadas, mas nunca houve pelos candidatos estímulo a violência, falar em metralhar”, diz.

Na campanha de 2018, o presidente Jair Bolsonaro, então candidato ao cargo, chegou a falar em “fuzilar a petralhada”.

Cobrado pela declaração neste final de semana, Bolsonaro publicou em rede social horas após o assassinato de Arruda que dispensa o “apoio de quem pratica violência contra opositores”.

Para o coordenador do Giel, qualquer ato de violência contra liderança política é muito grave porque mina a democracia e ainda fere a liberdade de expressão. “Reduz a participação e a legitimidade dos eleitos e deixa as pessoas com receio de manifestar sua opinião”, afirma.

Diante do acirramento das tensões no país e dos ataques de Bolsonaro ao processo eleitoral, ele diz temer que ocorra em grandes proporções algo pouco comum no Brasil: a violência pós-eleitoral, como ocorreu em episódios recentes nos Estados Unidos e na Bolívia.

Por enquanto, o assassinato do tesoureiro petista em Foz do Iguaçu (PR) não é a regra da violência política observada nos últimos três anos, que tem perfil mais local.

Estudo de Borba em parceria com Vinícius Israel, Miguel Carnevale e Pedro Bahia mostra que, no ciclo das eleições de 2020, as lideranças políticas vítimas de violência eram majoritariamente do sexo masculino, brancos, com alta escolaridade, dos pequenos municípios e filiados a partidos da centro-direita.

Por outro lado, a chance de um homicídio ocorrer era maior contra políticos não brancos e de baixa escolaridade.

Por enquanto, a dinâmica predominantemente local se mantém. Segundo o boletim mais recente do Observatório, a maior parte dos alvos da violência política do segundo trimestre de 2022 eram vereadores (48,5%) e prefeitos (10,9%).

Mas acontecimentos recentes têm aumentado a preocupação com a segurança do pleito deste ano.

Na quinta-feira (7), um evento com apoiadores de Lula na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, foi alvo de um artefato explosivo.

No último dia 15, apoiadores do ex-presidente foram alvo de drone com um líquido antes de um ato com a presença de Lula em Uberlândia, Minas Gerais.

Como a o jornal Folha de S.Paulo mostrou, a Polícia Federal decidiu antecipar e reforçar o aparato de segurança do ex-presidente.

Fonte: Angela Pinho/Folhapress

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