Maria Nilza
A macrorregião de Picos é berço do Repente piauiense e coleciona grandes nomes da poesia nordestina.
A Literatura de Cordel desembarcou no Brasil junto com os portugueses, perambulou por alguns rincões e encontrou repouso no Nordeste, onde se tornou uma das manifestações mais tradicionais da cultura local. Daí vieram diversas vertentes entre elas a poesia repentista, cantar versos de improviso ao som de uma viola. Em alguns estados esta cultura teve um maior florescimento e o Piauí está entre eles, e se tornou um celeiro de poetas repentistas principalmente a macrorregião de Picos.
Os representantes do Repente na Macrorregião
Francisco do Reis foi um dos mais conhecidos, na macrorregião e por vários estados brasileiros, cantando repente acompanhado de sua viola. Entretanto poucos o conhece por seu nome da batismo, mas quando pronuncia Barrazul os amantes da viola lembram do grande poeta da Rádio Difusora.
Seguindo os passos deste trovador e outros precursores do Repente em Picos, Hipólito Moura, aos 17 anos foi parceiro do poeta na rádio, em 1989. Depois de alguns ano, este travador se mudou para a cidade de Caruaru onde consolidou sua carreira de Repentista e tem representado o Piauí em festivais por todo o país. Como Hipólito Moura segue uma lista extensa de pessoas simples anônimas, mas com grande talento e sensibilidade para cantar as inquietações do sertanejo: Vitorino Bezerra, de Belém do Piauí, Zé Reis de Jaicós, Antônio Veloso de São João da Canabrava, Expedito Mourinha de Itainópolis, Tanton Brito de Monsenhor Hipólito e João Moura Leal ( professor, poeta escritor com três livros publicados) de Vila Nova do Piauí, Zé Souza de Monsenhor Hipólito, Netinho Macedo de Padre Marcos.
Um nome de destaque, bastante conhecido no Brasil, é José de Moura o Zé Viola, natural de Bocaina, tem residência em Teresina, mas é onde menos o encontra. Está sempre com agenda cheia se apresentando pelos cantos do Brasil.
Festivais e cantorias
O trabalho de preservação da arte do improviso é feito de maneira bem simples como as formigas. Eles próprios preparam seus eventos, gravam e comercializam seus discos e marcam suas cantorias. No município de Monsenhor Hipólito o poeta Adalberto Carvalho junto com seu irmão, Chagas Carvalho, também cantador, músico e arranjador, realizam anualmente há 22 anos, um festival onde reúnem muitos repentistas da macrorregião e alguns convidados de outros estados. No último evento, realizado dia 20 de setembro, se apresentaram 14 cantadores, sendo dois nomes de destaque do Ceará e dois da Paraíba.
Os convidados ajudam a atrair o público e também é uma estratégia utilizada por estes artistas em forma de intercambio. Cada convidado fica na responsabilidade de levar o anfitrião para se apresentar em seus eventos em seus respectivos estados. Este Festival também teve a participação de uma dupla bem jovem Jairo Silva, 20 anos e Jeferson Silva, 18 anos. Os dois são piauienses que viveram muito tempo em Monsenhor Hipólito e recentemente se mudaram para Iguatu no Ceará.
Outro evento de viola e poesia acontece em Picos desde 2012 é o festival organizado pela psicóloga e promotora de eventos, Graça Moura. Ela é uma apologista da cultura repentista e em parceria de Hipólito Moura realiza anualmente um grande encontro de poetas repentistas na cidade de Picos. Para o festival, que acontece no Espaço Ciranda de Cultura e Lazer, vem muitos artista do estado do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
A viola no rádio
Segundo o poeta Genivaldo Sousa, 36 anos, natural de Jaicós, a cultura repentista não encontra espaço na mídia, por isso é necessário buscar uma oportunidade para divulgar o trabalho nas rádios. Ele que tem um programa diário pela Rádio Canta Galo diz: “Acredito que a única maneira de não deixar morrer esta cultura é seguir com os programas de rádio, já que não encontramos apoio dos órgãos públicos”. Assim como o compositor jaicoense, os irmãos Zé da Luz e Chico da Luz mantém, pela Rádio Difusora de Picos, às 13:00 horas, um programa diário onde cantam, divulgam suas agendas e marcam cantorias. Também pela Difusora, diariamente, vão ao ar os programas de Antônio Neto , de Inhumas e Antônio Ricardo da localidade Valparaíso, às 13:30. Às 17:00 horas, desde 18/01/1980 o Programa Tarde Sertaneja, do veterano Barrazul, que hoje é evangélico, mas continua fazendo seus versos ao som da viola em louvor a Jesus Cristo. Aos sábados às 13:00 horas Valdenor Sousa é quem toca a viola na Difusora de Picos.
Zé Tiago e João Batista fazem programa semanal través da Cultura FM às sextas-ferias, a partir das 17 horas. Foi entre acordes de viola que Zé Tiago contou ao Baú como iniciou sua criação poética. “ a gente se descobre poeta ouvindo outros poetas, quando sentimos o mesmo verme roendo dentro de nós, quando sentimos a mesma dor do outro”.