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14 de janeiro de 2025
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Nordeste lidera em chacinas com 1,2 mil mortos; Piauí regista 10 casos, revela estudo inédito

Atualizada às 16h42

Levantamento inédito aponta que o Piauí registrou 10 mortos por chacinas em 35 anos (1988 a 2023) com 1.291 mortos na região Nordeste e Norte do País. A Bahia é o estado com o maior número de chacinas, com um total de 103, dos quais 46 ocorreram na capital, Salvador.

A Secretaria de Segurança Pública do Piauí disse, em nota, que a metodologia utilizada na pesquisa tem limitações que podem comprometer a validade dos dados coletados. (Veja a nota completa na íntegra ao fim da reportagem)

Uma das chacinas que chocou o Piauí acorreu em 23 de abril de 2023, quando quatro pessoas da mesma família foram assassinadas a tiros em uma casa na cidade de Baixa Grande do Ribeiro, 586 km ao Sul de Teresina. As vítimas eram pai e seus dois filhos, e um funcionário da família. A Polícia Civil prendeu o mandante do crime e descobriu que o crime foi por vingança.

O Mapa de Chacinas elaborado pela Rede Liberdade e pela Clínica de Direitos Humanos do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) revela que foram registradas 339 chacinas na região, que resultaram em 1.291 mortes.

A Bahia lidera o ranking, o Ceará aparece em segundo lugar, com 75 chacinas, incluindo 24 em Fortaleza. Pernambuco registra 37 casos, seguido pelo Rio Grande do Norte, com 39, e Alagoas, com 33. A Paraíba registrou 25, enquanto o Piauí teve 10 casos, Sergipe 14 e o Maranhão apresentou 3 chacinas.

Para Amarílis Costa, diretora-executiva da Rede Liberdade, esses números evidenciam um padrão de violência estrutural contra populações vulneráveis.

“Há uma violência direcionada e uma omissão persistente das autoridades em proteger essas comunidades. Esse cenário exige uma resposta urgente e um comprometimento do Estado”, afirma.

A pesquisa revela ainda que as chacinas atingem de forma desproporcional comunidades negras, quilombolas e indígenas, o que indica uma seletividade dos homicídios. Sem dados oficiais detalhados sobre o perfil racial das vítimas, os pesquisadores estimam que a maioria desses crimes ocorre em territórios majoritariamente negros. De acordo com Rodrigo Portela, consultor e um dos pesquisadores do estudo, a violência se concentra desproporcionalmente nessas comunidades. “Este estudo mostra que comunidades inteiras permanecem desprotegidas, e o Estado falha em oferecer políticas de reparação para as famílias das vítimas”, observa.

O estudo também destaca que a ausência de um monitoramento unificado e de medidas de responsabilização reforça a invisibilidade das chacinas. Sem informações detalhadas sobre as vítimas — como raça, idade e condição social — e sem um banco de dados oficial, a compreensão desses eventos permanece incompleta. Os pesquisadores observam que a década de 1990 teve uma subnotificação de chacinas devido à limitação dos dados disponíveis, baseados principalmente em registros secundários e jornalísticos. Somente a partir de 2011, com o aumento da cobertura midiática e o uso mais frequente do termo “chacina” para descrever esses eventos, a base de dados se consolidou e permitiu uma compreensão mais precisa da escala do problema. Essa lacuna histórica, segundo eles, dificulta uma resposta mais direcionada às comunidades afetadas.

Diante dessa falta de dados e da impunidade persistente, os autores do levantamento reforçam a necessidade urgente de um acompanhamento mais efetivo e de uma estrutura de segurança pública que proteja essas populações. “O dado mais importante que se obteve é o de apagamento dessas vítimas, que, ao nosso ver, serve para a manutenção de um projeto de destruição material de corpos e populações julgados como descartáveis e supérfluos, caracterizados como vidas matáveis e sem valor”, conclui o documento.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Piauí diz que a  análise da metodologia utilizada na pesquisa sobre chacinas revela algumas limitações que podem comprometer a validade dos dados coletados.

“Inicialmente, a pesquisa não traz uma definição clara da categoria “chacina”, limitando-se a descrevê-la como assassinatos e/ou execuções em série, desconsiderando o número de vítimas e contexto social envolvido, se permeado por conflitos sociais, políticos, territoriais ou em confronto com a polícia”, diz a nota.

Outro ponto destacado pela Secretaria de Segurança é a dependência de dados extraídos de um único portal de notícias.

Veja o que a Secretaria diz: 

A pesquisa menciona que, após a coleta inicial, foram identificadas mais de 2.700 ocorrências do termo “chacina”, mas não esclarece como foram eliminadas as repetições e quais critérios foram utilizados para validar as informações. A pesquisa também admite que a base de dados é predominantemente composta por informações coletadas após 2012, o que pode resultar em uma visão enviesada da evolução das chacinas ao longo do tempo.
A pouca abrangência dos estados pesquisados também compromete a generalização dos resultados, visto que no  relatório em questão apresentam apenas as “chacinas” ocorridas no Norte e Nordeste, desconsiderando o fenômeno noutros estados, fato que se faz necessário segundo outros estudos do gênero, como o da Comissão Pastoral da Terra (CPT)  que noticiou entre os anos de 1985 e 2017, 46 massacres de trabalhadores rurais no Brasil, sendo 26 deles no Pará
e 20 nas regiões Sul e Sudeste paraenses. Além dos estudos especializados, se faz necessário relembrar as chacinas historicamente noticiadas que se deram no eixo sul-sudeste , como a Chacina da Candelária (1993- Rio de Janeiro), a Chacina do Carandiru (1992- São Paulo), dentre outras.
Por fim, a utilização de ferramentas como o chat GPT para a descrição dos episódios também compromete o resultado da pesquisa, pois não garante a precisão necessária para a análise de eventos complexos e sensíveis, devido da imprecisão conceitual já apontada.
Assim, diante do exposto, a pesquisa apresenta limitações metodológicas que comprometem a qualidade dos dados e  estudos sobre “chacinas” no Brasil. A imprecisão conceitual, a dependência excessiva de fontes jornalísticas, a falta de critérios de validação e as limitações geográfica e temporal da coleta de dados são aspectos que podem comprometer os resultados da citada pesquisa

Fonte: CidadeVerde

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