O Aedes aegypti é vetor de doenças graves como dengue, febre amarela, febre zika e chicungunha, mas não são todos os mosquitos da espécie que ameaçam a saúde humana. Os machos são considerados inofensivos, pois apenas as fêmeas picam porque precisam de sangue para o desenvolvimento de ovos. Com isso em mente, pesquisadores acreditam que uma proporção maior de machos reduziria a transmissão de doenças, e uma nova descoberta abre caminho para a mudança de sexo dos insetos por meio de alterações genéticas.
O estudo realizado por uma equipe do Instituto Fralin de Ciências da Vida, da Universidade Virginia Tech, identificou um gene responsável pela determinação do sexo nos mosquitos. Batizado como Nix, o interruptor genético fica escondido no genoma dos insetos, por isso nunca havia sido descoberto. Nos testes de laboratório, os cientistas injetaram o Nix em embriões e descobriram que mais de dois terços dos mosquitos fêmea desenvolveram genitais masculinos. Quando o Nix foi retirado de exemplares adultos, usando um método de edição do genoma, insetos machos desenvolveram genitais femininos.
— O Nix nos proporciona oportunidades para aproveitar a diferenciação sexual do mosquito para lutar contra doenças infecciosas — disse Jake Zhijian Tu, professor de bioquímica no Instituto Fralin.
A ideia, dizem os pesquisadores, é criar estratégias de controle do mosquito, seja convertendo fêmeas em machos ou eliminando seletivamente as fêmeas.
— Nós ainda não estamos lá, mas o objetivo final é estabelecer linhagens transgênicas que forcem a manifestação do Nix em fêmeas para convertê-las em machos inofensivos — explicou Zach Adelman, professor associado no Instituto Fralin.
Já existem testes em andamento com o uso de transgênicos para reduzir a população de mosquitos, inclusive no Brasil. Em abril do ano passado, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou projeto que libera a comercialização de um espécime que ao copular com fêmeas nativas gera descendentes incapazes de alcançar a vida adulta.
— Hoje pode-se fazer qualquer coisa com a genética — afirmou José Maria Ferraz, professor da Universidade Federal de São Carlos (SP) e ex-membro do CTNBio. — Mas existem riscos que devem ser avaliados. Você está manipulando algo que levou milhares de anos para se desenvolver na natureza.
Ao combater o Aedes aegypti, existe a possibilidade de outras espécies, como o Aedes albopictus, assumirem o seu lugar. Outra possibilidade é de os descendentes que sobreviverem com a alteração genética serem mais eficientes na transmissão das doenças.
O Aedes Aegypti é uma espécie nativa do continente africano, que começou a se espalhar pelo mundo a bordo de navios no século XVIII. A espécie é tratada como questão de saúde pública, por ser bem adaptada aos ambientes humanos e ser vetor de graves doenças, entre elas a dengue. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a incidência da dengue vem aumentando nas últimas décadas. Estimativas apontam para 390 milhões de infecções por ano, sendo que 96 milhões desenvolvem complicações clínicas.
— A redução seletiva de populações do Aedes aegypti em áreas onde eles não são nativos teria um pequeno impacto ambiental, e uma drástica melhoria na saúde humana — disse Brantley Hall, que também assina o estudo.
Fonte: O Globo