O Piauí já emitiu 11.619.144 toneladas de gás carbônico (CO2) com o desmatamento no Cerrado. É o que revela o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), que produziu um estudo relacionando a emissão de gases poluentes com o desmatamento do bioma no Brasil. Os dados foram divulgados no último dia 11 de setembro e revelam que o Piauí ocupa o quarto lugar no ranking de estados com as maiores emissões de CO2 decorrente do desmatamento do Cerrado brasileiro.
O Ipam analisou dados gerados durante um ano e meio pelo Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado). De janeiro de 2023 a julho de 2024, o desmatamento registrado em todo o Cerrado brasileiro foi responsável pela emissão de mais de 135 milhões de toneladas de gás carbônico. O número é 1,5 vezes maior que as emissões anuais do setor industrial do país.
O Matopiba lidera as emissões. A fronteira agrícola formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia geraram, ao todo, 108 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera com o desmatamento da região cerradeira. Este número equivale a 50% das emissões totais do setor de transportes, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Ao todo, 80% das emissões de CO2 no país vieram da perda de vegetação do Cerrado na área do Matopiba.
Com seus mais de 11 milhões de toneladas de CO2 geradas, o Piauí é, entre os Estados do Matopiba, o que menos poluiu o ar brasileiro com os desmatamentos no Cerrado. Na dianteira da tabela aparece o Tocantins, com 39.472.653 toneladas de CO2 geradas; em seguida vem o Maranhão, com 35.016.466 toneladas; e a Bahia, com 24.680.449 toneladas de gás carbônico lançadas na atmosfera brasileira com a perda de vegetação cerradeira.
Líder no desmatamento do Cerrado, o Maranhão teve mais de 301 mil hectares de vegetação nativa destruída de janeiro de 2023 a julho de 2024. Além de liderar as emissões na vegetação cerradeira, o Estado também é o primeiro em emissões em formações campestres, que corresponderam a 6 milhões de toneladas.
Já o Tocantins teve 273 mil hectares de Cerrado desmatados em um ano e meio. Tanto em 2023 quanto em 2024, o Estado liderou a lista de emissões decorrentes de formações savânicas e florestais, que totalizaram, juntas, 38 milhões de toneladas emitidas (98% do Estado).
O estudo do Ipam aponta que as savanas do Cerrado concentram 65% do total de emissões associadas ao desmatamento no Cerrado desde o começo de 2023. A formação savânica é o tipo de vegetação predominante no Cerrado, ocupando 62% de toda a área de vegetação remanescente do bioma, e foi também a que concentrou a maior parte das emissões decorrentes do desmatamento: 88 milhões de toneladas de CO2 emitidas no período analisado.
Piauí já emitiu 11 milhões de toneladas de CO2 com desmatamento no Cerrado
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, berço de rios, bacias hidrográficas, aquíferos e a savana mais rica e biodiversidade do planeta. Sua preservação, no entanto, esbarra em problemas crônicos da política ambiental, que costuma priorizar a proteção de formações florestais em detrimento de outros tipos de ecossistemas.
“Mais de 60% da vegetação remanescente do Cerrado está dentro de áreas privadas e, pelo Código Florestal, essas propriedades podem legalmente desmatar até 80% da vegetação nativa em seus terrenos. É um cenário sensível para a proteção do bioma, que expõe a lacuna de políticas de incentivo para evitar o desmatamento, ainda que legal, e demanda também, mais fiscalização para averiguar o desmate ilegal”, avalia Fernanda Ribeiro, pesquisadora do Ipam responsável pelo SAD Cerrado.
As formações campestres, que ocupam 6% de toda a área de vegetação remanescente do Cerrado, concentram 7% do total de emissões, impulsionado principalmente pelo desmatamento no Maranhão. O desmatamento em florestas, que é a segunda formação mais rara no Cerrado, foi responsável por 27% das emissões.
Fernanda Ribeiro explica que o Cerrado armazena carbono principalmente abaixo do solo. “Além de ser um bioma com diversidade única, conservar o Cerrado é essencial para combater a crise climática no Brasil. É que o Cerrado é também um bioma chave para a segurança hídrica, alimentar e econômica”, diz. A pesquisadora do Ipam cobra mais incentivos para conservação dos remanescentes de vegetação nativa em áreas privadas para além do código florestal. Do contrário, as “ilhas do Cerrado nativo” serão degradadas.
Fonte: O Dia