Dois atletas piauienses de Kung Fu, João Henrique, de 17 anos, e Artur Lima, de 14, foram impedidos de participar do 9º Campeonato Mundial Júnior de Wushu, que ocorrerá entre os dias 22 e 30 de setembro de 2024, em Brunei, na Ásia, devido à falta de apoio da Prefeitura de Teresina. Embora a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SEMEL) tenha garantido o patrocínio das passagens, os sonhos dos jovens foram frustrados quando, na última hora, a entidade informou sobre um erro na emissão das passagens.
Os dois atletas, que são campeões em competições nacionais, passaram meses se preparando para representar o Brasil e o Piauí no campeonato mundial. João Henrique, que compete na categoria até 60 kg, precisou perder 6 kg para se enquadrar nos requisitos da competição. Artur Lima, por sua vez, compete na categoria até 38 kg e também enfrentou uma rigorosa rotina de treinos e sacrifícios, tanto físicos quanto financeiros.
Ambos os atletas saíram de comunidades periféricas da capital e conquistaram seus títulos nacionais através de muito esforço, sendo hoje considerados os melhores atletas de Kung Fu do Brasil em suas categorias.
O Campeonato Mundial Júnior de Wushu é uma das mais importantes competições internacionais da modalidade, que é uma vertente do Kung Fu voltada para o combate. Esse evento reúne jovens atletas do mundo todo e serve como vitrine para novos talentos no esporte. A participação seria um marco histórico, já que seria a primeira vez que atletas do Piauí competiriam nesse torneio de prestígio global.
Semel prometeu as passagens mas processo de solicitação ficou parado por meses, diz federação
A expectativa para a participação era alta, já que a SEMEL havia assegurado a compra das passagens ainda em abril, logo após a solicitação formal feita pela Federação de Kung Fu Wushu do Piauí.
Segundo Aridiego Pereira, presidente da federação, mesmo após aprovação da solicitação, diversas dificuldades foram enfrentadas durante o processo.
Com muito esforço, a federação conseguiu reunir o valor de R$ 6.800 por atleta, recurso que seria destinado ao pagamento das inscrições, hotel e ônibus para os atletas.
“Eu tinha um prazo para realizar o pagamento das inscrições. Falei com o pessoal da secretaria, e eles disseram que estava tudo certo com os bilhetes, então fizemos o pagamento. Faltando dois dias para a viagem, eu liguei para a equipe para confirmar os bilhetes, mas eles disseram que não estavam prontos para retirar”, disse.
Projeto de Kung Fu tem mais de 200 alunos
O pesadelo começou a se desenrolar um dia antes da viagem, que aconteceria nesta sexta-feira (20).
“Quando faltava um dia para a viagem, eles disseram que estava dando problema. Peguei toda a documentação, desci para a SEMEL, falei com os secretários e recebi a informação de que o dinheiro já estava para ser liberado. Quando o momento de retirar as passagens, me informaram que estava dando problema por causa do período eleitoral”, acrescentou o presidente.
A frustração é ainda maior quando se considera que a verba para as passagens havia sido aprovada. Segundo o presidente, o processo ficou parado no sistema por dois meses.
“A verba foi liberada e aprovada, mas houve um descaso. A SEMEL foi notificada para enviar o restante da documentação, que ficou dois meses parada no sistema. Quando finalmente tentaram resolver o problema, já era tarde demais. Ficamos com o prejuízo, e o dinheiro não volta, porque a Confederação Brasileira fez um pacote que incluía um ônibus, hospedagem, e a inscrição na competição”, complementou.
A situação afetou não só os atletas, mas toda a equipe de Kung Fu que treina sob a coordenação de Aridiego. Com mais de 200 alunos, a notícia abalou o time, e todos os treinos foram cancelados após o ocorrido. O impacto psicológico nos jovens foi grande.
Por meio de nota, a Federação de Kungfu Wushu, destacou que “a falta de compromisso afeta negativamente o crescimento do esporte na região e o esforço de atletas que levam o nome do estado para o cenário mundial”.
“É inadmissível que uma decisão tão importante, como a de garantir a participação de nossos atletas em um evento esportivo de tamanha relevância, seja tomada de forma tão irresponsável por parte da SEMEL, às vésperas do embarque. Isso demonstra o total descaso com o futuro desses jovens atletas e com o esporte teresinense. Considerando que a estadia dos atletas já havia sido devidamente providenciada, o prejuízo financeiro causado por essa decisão irresponsável é de mais de 14 mil reais. No entanto, o dano mais grave é o desânimo e a frustração causados aos atletas e seus familiares, que tiveram suas expectativas frustradas de forma injusta e irresponsável”, diz a nota.
O que diz a SEMEL
A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer emitiu uma nota de esclarecimento informando que a decisão de não fornecer as passagens foi tomada com base em restrições impostas pela Lei Eleitoral (Lei nº 9.504/97, Art. 73, §10), que impede determinadas ações de gestão pública durante o período eleitoral. A SEMEL afirmou que estava apenas cumprindo as exigências legais.
“A decisão se baseia em restrições estabelecidas no ano eleitoral, conforme interpretação do Art. 73, §10 da Lei nº 9.504/97, que veda determinados atos durante este período. O parecer jurídico Nº 317/2024 da Procuradoria Administrativa do Município de Teresina reforça a necessidade de cumprimento rigoroso da legislação eleitoral vigente”, disse a entidade.
Fonte: O Dia