A criminalidade no Piauí tem se perpetuado de forma preocupante dentro dos próprios núcleos familiares. Investigações do Departamento de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) apontam que membros de uma mesma família, incluindo menores de idade, mães, tios e até avós, estão cada vez mais integrados a facções criminosas, consolidando uma espécie de “herança do crime”.
O alerta foi feito pelo delegado Charles Pessoa, coordenador do Draco, durante entrevista sobre o assassinato de um policial militar cometido por um adolescente. Segundo o delegado, o jovem já havia sido apreendido em fevereiro deste ano e faz parte de uma família marcada pela reincidência criminal: mãe, dois tios, irmão, irmã e até a avó, com mais de 70 anos, já foram detidos por envolvimento com facções.
“Estou falando de pelo menos seis ou sete pessoas do mesmo núcleo familiar. A avó foi conduzida porque estava ajudando nas ações criminosas. A mãe está presa, dois tios presos, irmão preso, irmã presa… Todos envolvidos”, detalhou Charles.
O delegado comentou ainda que muitos pais e mães, ao invés de protegerem seus filhos, acabam levando-os para dentro da criminalidade.
“Pais e mães de família que deveriam cuidar para que seus filhos não entrassem no crime, estão fazendo o papel inverso, convidando e levando seus familiares para integrar a organização criminosa”, disse.
Sentimento de pertencimento
Charles Pessoa destacou que o aliciamento de jovens, muitos ainda na adolescência, é agravado pela ausência de alternativas sociais e pela busca por um sentimento de pertencimento oferecido pelas facções.
“A princípio a gente imaginava que o que movimentava todas essas facções era uma estrutura financeira, mas na verdade quando a gente começa a estudar esses grupos organizados, a gente observa que o que movimenta as facções criminosas é principalmente a situação desse sentimento de pertencimento. E o faccionado procura a facção, e a facção procura quem está vulnerável justamente em razão dessas lacunas deixadas pelo Estado”, afirmou o delegado.
Para tentar reverter esse cenário, a Secretaria de Segurança Pública do Piauí tem adotado uma metodologia que combina repressão e prevenção. De acordo com o delegado, o Draco atua em diversos eixos: repressão com prisões e operações de sufocamento das facções, mas também ações preventivas, como palestras em comunidades e escolas públicas para conscientizar os jovens.
Fonte: CidadeVerde