A arqueóloga Niède Guidon morreu na madrugada desta quarta-feira (4), mas seu legado permanece gravado na memória e na história do Piauí. A pesquisadora foi homenageada em vida diversas vezes por artistas, escritores e diretores piauienses. Sua trajetória e legado na arqueologia mundial foram retratados em filme e livro. Niède virou letra de música e nome de pássaro.
Uma das homenagens ocorreu em 2020, quando estreou nos cinemas o documentário “Niède”. Com direção de Tiago Tambelli, o filme reconstrói o percurso dos primeiros homens que povoaram o continente americano por meio da história de Niède Guidon, considerada uma das maiores arqueólogas brasileiras.
O longa-metragem contou com a participação de 25 profissionais, desde a fase de pesquisas, iniciada em 2016, até sua finalização. A produção é da B&T Audiovisual, do Piauí, com coprodução da Lente Viva Filmes e distribuição da ELO Company.
Em 2019, o filme participou do É Tudo Verdade, maior evento de documentários da América Latina, e se destacou como o primeiro longa com projeção nacional realizado por uma produtora piauiense a estrear no festival.
Em 2023, Niède foi homenageada por meio do livro Niède Guidon: uma arqueóloga no sertão, escrito por Adriana Abujamra. A obra foi finalista do Prêmio Jabuti Acadêmico de 2024.
O livro concorreu na categoria Divulgação Científica, pertencente a um eixo especial do prêmio. O Prêmio Jabuti Acadêmico visa valorizar, reconhecer a excelência e divulgar os autores e editores dedicados a esse segmento no Brasil.
Ainda em 2023, a arqueóloga e cientista recebeu o diploma de membro da Academia Piauiense de Letras. O documento foi entregue em sua residência, situada na área do Museu do Homem Americano, em São Raimundo Nonato.
A cientista tomou posse na Cadeira 24 da Academia Piauiense de Letras em 27 de novembro de 2020. Na ocasião, a sessão de posse foi realizada em formato virtual, em razão da pandemia da Covid-19; por isso, o diploma foi entregue posteriormente. Além do diploma, ela também recebeu a veste acadêmica, em cerimônia reservada.
Niède Guidon virou pássaro
Foto: Pablo Cerqueira/ ufpi
Em junho de 2024, egressos do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Piauí (UFPI) descobriram uma nova espécie de ave na Caatinga piauiense. A espécie foi batizada de Niède Guidon em homenagem à pesquisadora.
Na época, o estudo foi publicado na revista científica internacional Zoologica Scripta. A pesquisa revelou que alterações históricas no curso do rio São Francisco e oscilações climáticas ao longo de aproximadamente um milhão de anos foram responsáveis pela divisão de um grupo de aves conhecidas como choca-do-nordeste em duas espécies distintas. Os indivíduos da nova espécie, denominada Sakesphoroides niedeguidonae, até então eram considerados parte da espécie Sakesphoroides cristatus. Contudo, o estudo identificou diferenças genéticas, de plumagem e de canto entre os grupos.
A descoberta enriqueceu o conhecimento sobre a biodiversidade da Caatinga e destacou a importância contínua da pesquisa científica e da colaboração entre instituições acadêmicas e de pesquisa para a conservação do patrimônio natural do Brasil — e, principalmente, do trabalho de Niède Guidon no Piauí.
Canção piauiense homenageia Niède Guidon
Os cantores Zé Roraima e Mirton homenagearam Niède Guidon em uma canção, escrita em 2003. A letra faz uma conexão entre o passado ancestral e o presente, destacando a importância das descobertas arqueológicas para a compreensão da humanidade.
A composição ainda faz referência à “pedra furada” e à “palavra da pedra”, simbolizando a durabilidade e a profundidade das marcas deixadas pelos nossos antepassados.
O refrão “Ninguém é de guidom, Niède Guidom” é uma celebração da contribuição única da pesquisadora para a história da arqueologia brasileira.
A pesquisadora será sepultada no jardim de sua residência, em São Raimundo Nonato. O velório acontece no Museu do Homem Americano e o enterro será amanhã às 9h, restrito para a amigos íntimos.
Fonte: CidadeVerde